domingo, 8 de novembro de 2009

Outros outubros virão!


(Declaração Política do XIV Congresso do PCB)

Rio de Janeiro, outubro de 2009

Nascemos em 1922 e trazemos marcadas as cicatrizes da experiência histórica de nossa classe, com seus erros e acertos, vitórias e derrotas, tragédias e alegrias. É com esta legitimidade e com a responsabilidade daqueles que lutam pelo futuro que apresentamos nossas opiniões e propostas aos trabalhadores brasileiros.

Os comunistas brasileiros, reunidos no Rio de Janeiro, nos dias 9 a 12 de outubro, no XIV Congresso Nacional do Partido Comunista Brasileiro (PCB), avaliamos que o sistema capitalista é o principal inimigo da humanidade e que sua continuidade representa uma ameaça para a espécie humana. Por isso, resta-nos apenas uma saída: superar revolucionariamente o capitalismo e construir a sociedade socialista, como processo transitório para emancipação dos trabalhadores, na sociedade comunista.

Uma das principais manifestações dos limites históricos do capitalismo é a atual crise econômica mundial, que revelou de maneira profunda e didática todos os problemas estruturais desse sistema de exploração de um ser humano por outro: suas contradições, debilidades, capacidade destruidora de riqueza material e social e seu caráter de classe. Enquanto os governos capitalistas injetam trilhões de dólares para salvar os banqueiros e especuladores, os trabalhadores pagam a conta da crise com desemprego, retirada de direitos conquistados e aprofundamento da pobreza.

Mesmo feridos pela crise, os países imperialistas realizam uma grande ofensiva para tentar recuperar as taxas de lucro e conter o avanço dos processos de luta popular que vêm se realizando em várias partes do mundo. Promovem guerras contra os povos, como no Iraque e no Afeganistão, armam Israel para ameaçar a população da região e expulsar os palestinos de suas terras. Na América Latina, desenvolvem uma política de isolamento e sabotagem dos governos progressistas da região, com a reativação da IV Frota e a transformação da Colômbia numa grande base militar dos Estados Unidos. Toda essa estratégia visa a ameaçar Venezuela, Bolívia, Equador, Cuba e até mesmo países cujos governos não se dispõem a promover profundas mudanças sociais, como é o caso do Brasil, tudo para garantir o controle das extraordinárias riquezas do continente, entre elas o Pré-Sal, a Amazônia, a imensa biodiversidade e o Aquífero Guarani.

A escalada de violência do imperialismo contra os povos, agravada pela crise do capitalismo e por sua necessidade de saquear as riquezas naturais dos países periféricos e emergentes acentua a necessidade de os comunistas colocarmos na ordem do dia o exercício do internacionalismo proletário. Episódios recentes, como a tentativa de separatismo na Bolívia, os covardes crimes contra a humanidade na Faixa de Gaza, o golpe em Honduras, as ameaças ao Irã e à Coreia do Norte somam-se ao permanente bloqueio desumano a Cuba Socialista, a uma década de manobras com vistas à derrubada do governo antiimperialista na Venezuela e à ocupação do Iraque e do Afeganistão.

O PCB continuará no Brasil com sua consequente solidariedade aos povos em suas lutas contra o capital e o imperialismo, independentemente das formas que as circunstâncias determinem. O papel ímpar do PCB na solidariedade aos povos em luta se radica na sua independência política com relação ao governo brasileiro e na sua visão de mundo internacionalista proletária.

A crise demonstra de maneira cristalina a necessidade de os povos se contraporem à barbárie capitalista e buscarem alternativas para a construção de uma nova sociabilidade humana. Em todo o mundo, com destaque para a América Latina, os povos vêm resistindo e buscando construir projetos alternativos baseados na mobilização popular, procurando seguir o exemplo de luta da heróica Cuba, que ficará na história como um marco da resistência de um povo contra o imperialismo.

Nós, comunistas brasileiros, temos plena consciência das nossas imensas responsabilidades no processo de transformação que está se desenvolvendo na América Latina, não só pelo peso econômico que o Brasil representa para a região, mas também levando em conta que vivemos num país de dimensões continentais, onde reside o maior contingente da classe trabalhadora latino-americana. Consideramo-nos parte ativa desse processo de transformação e integrantes destemidos da luta pelo socialismo na América Latina e em todo o mundo.

Nesse cenário, o Estado brasileiro tem jogado papel decisivo no equilíbrio de forças continentais, mas na perspectiva da manutenção da ordem capitalista e não das mudanças no caminho do socialismo. Tendo como objetivo central a inserção do Brasil entre as potências capitalistas mundiais, o atual governo, em alguns episódios, contraria certos interesses do imperialismo estadunidense. No entanto, estas posturas pontualmente progressistas buscam criar um terceiro pólo de integração latino-americana, de natureza capitalista. Ou seja, nem ALCA, nem ALBA, mas sim a liderança de um bloco social-liberal, em aliança com países do Cone Sul, dirigidos por forças que se comportam também como uma “esquerda responsável”, confiável aos olhos do imperialismo e das classes dominantes locais, contribuindo, na prática, para aprofundar o isolamento daqueles países que escolheram o caminho da mobilização popular e do enfrentamento.

O respaldo institucional a alguns governos mais à esquerda na América Latina tem sido funcional à expansão do capitalismo brasileiro, que se espalha por todo o continente, onde empresas com origem brasileira se comportam como qualquer multinacional. Como o objetivo central é a inserção do Brasil como potência capitalista, o governo Lula não hesita em adotar atitudes imperialistas, como comandar a ocupação do Haiti para garantir um golpe de direita, retaliar diplomaticamente o Equador para defender uma empreiteira brasileira ou promover exercícios militares com tiro real na fronteira com o Paraguai, para defender os latifundiários brasileiros da soja diante do movimento camponês do país vizinho e manter condições leoninas no Tratado de Itaipu.

O capitalismo brasileiro é parte do processo de acumulação mundial e integrante do sistema de poder imperialista no mundo, ressaltando-se que as classes dominantes brasileiras estão umbilicalmente ligadas ao capital internacional. A burguesia brasileira não disputa sua hegemonia com nenhum setor pré-capitalista. Pelo contrário: sua luta se volta fundamentalmente na disputa de espaços dentro da ordem do capital imperialista, ainda que se mantenha subordinada a esta, inclusive no sentido de evitar a possibilidade de um processo revolucionário, no qual o proletariado desponte como protagonista.

Apesar de ainda faltarem condições subjetivas – sobretudo no que se refere à organização popular e à contra-hegemonia ao capitalismo – entendemos que a sociedade brasileira está objetivamente madura para a construção de um projeto socialista: trata-se de um país em que o capitalismo se tornou um sistema completo, monopolista, capaz de produzir todos os bens e serviços para a população. Uma sociedade em que a estrutura de classes está bem definida: a burguesia detém a hegemonia econômica e política, o controle dos meios de comunicação e o aparato estatal, enquanto as relações assalariadas já são majoritárias e determinantes no sistema econômico. Formou-se, assim, um proletariado que se constitui na principal força para as transformações sociais no País.

Do ponto de vista político e institucional, o Brasil possui superestruturas tipicamente burguesas, em pleno funcionamento: existe um ordenamento jurídico estabelecido, reconhecido e legitimado, com instituições igualmente consolidadas nos diferentes campos do Estado, ou seja, no Executivo, no Legislativo e no Judiciário. Formou-se também uma sociedade civil burguesa, enraizada e legitimada, que consolidou a hegemonia liberal burguesa, mediante um processo que se completa com poderosa hegemonia na informação, na organização do ensino, da cultura, elementos que aprimoram e fortalecem a dominação ideológica do capital no país.

Portanto, sob todos os aspectos, o ciclo burguês já está consolidado no Brasil. Estamos diante de uma formação social capitalista desenvolvida, terreno propício para a luta de classes aberta entre a burguesia e o proletariado. De um lado, está o bloco conservador burguês, formado pela aliança entre a burguesia monopolista associada ao capital estrangeiro e aliada ao imperialismo, a burguesia agrária com o monopólio da terra, a oligarquia financeira, com o monopólio das finanças, além de outras frações burguesas que permeiam o universo da dominação do capital.

Esta hegemonia do bloco conservador adquiriu maior legitimidade para implantar as políticas de governabilidade e governança necessárias à consolidação dos interesses do grande capital monopolista, com a captura de um setor político, representante da pequena burguesia e com ascendência sobre importante parte dos trabalhadores, uma vez que se tornava essencial neutralizar a resistência destes e das camadas populares, através da cooptação de parte de suas instituições e organizações.

Do outro lado, está o bloco proletário, hoje submetido à hegemonia passiva conservadora. Ainda que resistindo, encontra-se roubado de sua autonomia e independência política, acabando por servir de base de massa que sustenta e legitima uma política que não corresponde a seus reais interesses históricos. Constituído especialmente pela classe operária, principal instrumento da luta pelas transformações no país, pelo conjunto do proletariado da cidade e do campo, pelos movimentos populares e culturais anticapitalistas e antiimperialistas, por setores da pequena burguesia, da juventude, da intelectualidade e todos que queiram formar nas fileiras do bloco revolucionário do proletariado, em busca da construção de um processo para derrotar a burguesia e seus aliados e construir a sociedade socialista.

O cenário da luta de classes no âmbito mundial e suas manifestações em nosso continente latino-americano, o caráter do capitalismo monopolista brasileiro e sua profunda articulação com o sistema imperialista mundial, as características de nossa formação social como capitalista e monopolista, a hegemonia conservadora e sua legitimação pela aliança de classes de centro-direita, os resultados deste domínio sobre os trabalhadores e as massas populares no sentido da precarização da qualidade de vida, desemprego, crescente concentração da riqueza e flexibilização de direitos nos levam a afirmar que o caráter da luta de classes no Brasil inscreve a necessidade de uma ESTRATÉGIA SOCIALISTA.

São essas condições objetivas que nos permitem definir o caráter da revolução brasileira como socialista. Afirmar o caráter socialista da revolução significa dizer que as tarefas colocadas para o conjunto dos trabalhadores não podem ser realizadas pela burguesia brasileira, nem em aliança com ela. Estas tarefas só poderão ser cumpridas por um governo do Poder Popular, na direção do socialismo. O desenvolvimento das forças materiais do capitalismo no Brasil e no mundo permite já a satisfação das necessidades da população mundial, mas está em plena contradição com a forma das relações sociais burguesas que acumulam privadamente a riqueza socialmente produzida, cujo prosseguimento ameaça a produção social da vida, a natureza e a própria espécie humana.

A forma capitalista se tornou antagônica à vida humana. Para sobreviver, o capital ameaça a vida; portanto, para manter a humanidade devemos superar o capital. É chegada a hora, portanto, de criar as condições para a revolução socialista.

Nas condições de acirramento da luta de classes em nosso país, as lutas específicas se chocam com a lógica do capital. A luta pela terra não encontra mais como adversário o latifúndio tradicional, mas o monopólio capitalista da terra, expresso no agronegócio. A luta dos trabalhadores assalariados se choca com os interesses da burguesia, acostumada às taxas de lucros exorbitantes e à ditadura no interior das fábricas. A luta ecológica se choca com a depredação do meio ambiente, promovida pelo capital. As lutas dos jovens, das mulheres, dos negros, das comunidades quilombolas, índios, imigrantes e migrantes se chocam com a violência do mercado, seja na desigualdade de rendimentos, no acesso a serviços elementares, à cultura e ao ensino, porque o capital precisa transformar todas as necessidades materiais e simbólicas em mercadoria para manter a acumulação, ameaçando a vida e destruindo o meio ambiente.

A definição da estratégia da revolução como socialista não significa ausência de mediações políticas na luta concreta, nem é incompatível com as demandas imediatas dos trabalhadores. No entanto, a estratégia socialista determina o caráter da luta imediata e subordina a tática à estratégia e não o inverso, como formulam equivocadamente algumas organizações políticas e sociais. Pelo contrário, os problemas que afligem a população, como baixos salários, moradia precária, pobreza, miséria e fome, mercantilização do ensino e do atendimento à saúde, a violência urbana, a discriminação de gênero e etnia, são manifestações funcionais à ordem capitalista e à sociedade baseada na exploração. A lógica da inclusão subalterna e da cidadania rebaixada acaba por contribuir para a sobrevida do capital e a continuidade da opressão.

O que hoje impede a satisfação das necessidades mais elementares da vida em nosso país não é a falta de desenvolvimento do capitalismo. Pelo contrário, nossas carências são produto direto da lógica de desenvolvimento capitalista adotado há décadas sob o mesmo pretexto, de que nossos problemas seriam resolvidos pelo desenvolvimento da economia capitalista. Hoje, a perpetuação e o agravamento dos problemas que nos afligem, depois de gerações de desenvolvimento capitalista, são a prova de que este argumento é falso.

Portanto, nossa estratégia socialista ilumina a nossa tática, torna mais claro quem são nossos inimigos e os nossos aliados, permite identificar a cada momento os interesses dos trabalhadores e os da burguesia e entender como as diferentes forças políticas concretas agem no cenário imediato das lutas políticas e sociais. Esse posicionamento também busca sepultar as ilusões reformistas, que normalmente levam desorientação ao proletariado, e educá-lo no sentido de que só as transformações socialistas serão capazes de resolver os seus problemas.

No Brasil, nosso partido trabalha na perspectiva de constituir o Bloco Revolucionário do Proletariado, como instrumento de aglutinação de forças políticas e sociais antiimperialistas e anticapitalistas para realizar as transformações necessárias à emancipação dos trabalhadores. Nosso objetivo é derrotar o bloco de classe burguês e seus aliados que, mesmo com disputas e diferenciações internas, impõem a hegemonia conservadora e buscam a todo custo desenvolver a economia de mercado, mantida a subordinação ao capital internacional, ao mesmo tempo em que afastam os trabalhadores da disputa política, impondo um modelo econômico concentrador de renda e ampliador da miséria, procurando permanentemente criminalizar os movimentos populares, a pobreza e todos aqueles que ousam se levantar contra a hegemonia do capital. Para consolidar o poder burguês e legitimá-lo, colocam toda a máquina do Estado a serviço do capital.

Por isso mesmo, não há nenhuma possibilidade de a burguesia monopolista, em todos seus setores e frações, participar de uma aliança que vá além do horizonte burguês e capitalista. Isso significa que a nossa política de aliança deve se materializar no campo proletário e popular. A aliança de classes capaz de constituir o Bloco Revolucionário do Proletariado deve fundamentalmente estar estruturada entre os trabalhadores urbanos e rurais, os setores médios proletarizados, setores da pequena burguesia, as massas trabalhadoras precarizadas em suas condições de vida e trabalho que compõem a superpopulação relativa. Isso significa que a nossa tática deve ser firme e ampla. Ao mesmo tempo em que não há alianças estratégicas com a burguesia, todo aquele que se colocar na luta concreta contra a ordem do capital será um aliado em nossa luta, da mesma forma que aqueles setores que se prestarem ao papel de serviçais subalternos da ordem, se colocarão no campo adversário e serão tratados como tal.

A principal mediação tática de nossa estratégia socialista é, portanto, a criação das condições que coloquem os trabalhadores em luta, a partir de suas demandas imediatas, na direção do confronto com as raízes que determinam as diferentes manifestações da exploração, da opressão e da injustiça, ou seja, a ordem capitalista.

Assim, estamos propondo e militando no sentido da formação de uma frente de caráter antiimperialista e anticapitalista, que não se confunda com mera coligação eleitoral. Uma frente que tenha como perspectiva a constituição do Bloco Revolucionário do Proletariado como um movimento rumo ao socialismo.

A constituição do proletariado como classe que almeja o poder político e procura ser dirigente de toda a sociedade é um projeto em construção e não existem fórmulas prontas para torná-lo efetivo politicamente. Como tudo em processo de formação, a constituição desse bloco exige que o PCB e seus aliados realizem um intenso processo de unidade de ação na luta social e política, de forma que cada organização estabeleça laços de confiança no projeto político e entre as próprias organizações.

Reafirmamos a necessidade da conformação da classe trabalhadora como classe e, portanto, enquanto partido político, não pela afirmação dogmática, arrogante e pretensiosa de conformação de vanguardas autoproclamadas, mas pela inadiável necessidade de contrapor à ordem do capital – unitária e organizada por seu Estado e cimentada na sociedade por sua hegemonia – uma alternativa de poder que seja capaz de emancipar toda a sociedade sob a direção dos trabalhadores.

Sabemos que este é um momento marcado por enorme fragmentação e dispersão das forças revolucionárias, que corresponde objetivamente ao momento de defensiva que se abateu sobre os trabalhadores, mas também acreditamos que, tão logo o proletariado se coloque em movimento, rompa com a passividade própria dos tempos de refluxo e inicie uma ação independente enquanto classe portadora de um projeto histórico, que é o socialismo, as condições para a unidade dos revolucionários serão novamente possíveis.

Desde o XIII Congresso, o PCB vem se mantendo na oposição independente ao governo Lula, por entender que este governo trabalha essencialmente para manter e fortalecer o capital, restando à população apenas algumas migalhas como compensação social, por meio de programas que canalizam votos institucionalizando a pobreza e subordinando a satisfação das necessidades sociais ao crescimento da economia capitalista, verdadeira prioridade do governo.

O governo atual se tem pautado pela cooptação de partidos políticos e movimento sociais, buscando amortecer e institucionalizar a luta de classes, desmobilizando e enfraquecendo os trabalhadores em sua luta contra o capital. As antigas organizações políticas e sociais, que nasceram no bojo das lutas do final dos anos 70, se transformaram em partidos e organizações da ordem, ainda que guardem referência sobre a classe e abriguem militantes que equivocadamente, alguns de maneira sincera, ainda procuram manter ou resgatar o que resta de postura de esquerda. Desta forma, estas organizações acabaram por perder a possibilidade histórica de realizar o processo de mudanças sociais no país. Transformaram-se em organizações chapa-branca, base de sustentação de um governo que, vindo do campo de esquerda, disputou as eleições com uma proposta de centro esquerda, construiu uma governabilidade de centro direita e acabou por implementar um projeto que corresponde, na essência, aos interesses do grande capital monopolista, aproximando-se muito mais de um social liberalismo do que de uma social democracia.

É necessária, por isso, uma reorganização dos movimentos populares, especialmente do movimento sindical. O PCB trabalhará pela reorganização do sindicalismo classista e pela unidade dos trabalhadores, através do fortalecimento de sua corrente Unidade Classista e da Intersindical (Instrumento de Luta e Organização da Classe Trabalhadora), atuando nesta para recompor o campo político que a originou e ampliá-lo com outras forças classistas. A função principal da Intersindical é a de ser, a partir da organização e das lutas nos locais de trabalho, um espaço de articulação e unidade de ação do sindicalismo que se contrapõe ao capital, visando à construção, sem açodamento nem acordos de cúpula, de uma ampla e poderosa organização intersindical unitária, que esteja à altura das necessidades da luta de classes. Nesse sentido, o PCB reitera a proposta de convocação, no momento oportuno, do Encontro Nacional da Classe Trabalhadora (ENCLAT), como consolidação deste processo de reorganização do movimento sindical classista.

Também iremos trabalhar com afinco para a reorganização do movimento juvenil, especialmente pelo resgate da União Nacional dos Estudantes como instrumento de luta e de ação política da juventude, como foi ao longo de sua história. Mas a reconstrução do movimento estudantil brasileiro não se dará através da mera disputa pelos aparelhos e cargos nas organizações estudantis, tais como a UNE, a UBES e demais. Será necessária a incisiva atuação dos comunistas nas entidades de base, nas escolas e universidades, para que o movimento estudantil retome sua ação protagonista nas lutas pela educação pública emancipadora e pela formação de uma universidade popular, capaz de produzir conhecimento a serviço da classe trabalhadora e contribuir para a consolidação da contra-hegemonia proletária. Ou seja, o movimento estudantil brasileiro precisa ser resgatado da sua letargia para assumir o papel de organizador da juventude que quer lutar e construir o socialismo no Brasil.

Procuraremos desenvolver também laços com todos os movimentos populares, na resistência cotidiana dos trabalhadores em seus bairros e locais de trabalho, de forma a estabelecermos uma relação mais estreita com a população pobre e os trabalhadores em geral, ajudando-os a se organizarem para a luta.

A luta pela terra no Brasil se choca diretamente com a ordem capitalista que deve ser enfrentada, não apenas para se garantir o acesso à terra mas para a mudança profunda do modelo de desenvolvimento agrícola contra a lógica mercantil, monopolista e imperialista do agronegócio. A aliança de classes necessária à construção de uma estratégia socialista para o Brasil passa pela união entre os trabalhadores do campo e da cidade, dos pequenos agricultores e assentados na luta por um Poder Popular comprometido com a desmercantilização da vida e o fim da propriedade, empenhados na construção de uma sociedade socialista. O Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) conta com nossa irrestrita solidariedade e nossa parceria, em sua necessária articulação com o movimento sindical, juvenil e popular.

O PCB se empenhará também pela criação de um amplo e vigoroso movimento que venha às ruas exigir, através de um plebiscito e outras formas de luta, uma nova Lei do Petróleo, que contemple a extinção da ANP, o fim dos leilões das bacias petrolíferas, a retomada do monopólio estatal do petróleo e a REESTATIZAÇÃO DA PETROBRÁS (como empresa pública e sob controle dos trabalhadores), de forma a preservar a soberania nacional e assegurar que os extraordinários recursos financeiros gerados pelas nossas imensas reservas de recursos minerais sejam usados para a solução dos graves problemas sociais brasileiros e não para fortalecer o imperialismo e dar mais lucros ao grande capital.

Da mesma forma, daremos importância especial à frente cultural, estreitando os laços com artistas e intelectuais. Desde sempre a arte que se identifica com o ser humano é também a que denuncia a desumanidade do capital e da ordem burguesa. Desenvolvendo um trabalho contra a mercantilização da arte e do conhecimento, na resistência ao massacre imposto pela indústria cultural capitalista, o PCB apoiará a luta em defesa da plena liberdade de produção artística, intelectual e cultural e pela criação de amplos espaços para as manifestações artísticas e culturais populares, como parte inseparável de nossa luta pela emancipação humana.

Devido ao caráter fundamental da participação de intelectuais comprometidos com a luta pela emancipação do proletariado e pela hegemonia ideológica, política e cultural, o PCB jogará grande peso na tarefa permanente de formação, aperfeiçoamento e atualização teórica e política de seus militantes e na relação com intelectuais que detêm a mesma perspectiva revolucionária.

Nosso Partido vem realizando um intenso esforço no sentido de se transformar numa organização leninista, capaz de estar à altura das tarefas da Revolução Brasileira. Realizamos, no ano passado, a Conferência Nacional de Organização, na qual reformulamos o estatuto, trocamos o conceito de filiado pelo de militante, reforçamos a direção coletiva e o centralismo democrático. Estamos desenvolvendo um trabalho de construção partidária a partir das células, nos locais de trabalho, moradia, ensino, cultura e lazer, com o critério fundamental do espaço comum de atuação e luta, preferencialmente nos locais onde a população já desenvolve sua atuação cotidiana. O XIV Congresso Nacional coloca num patamar superior a reconstrução revolucionária do PCB.

O PCB, como um dos instrumentos revolucionários do proletariado, quer estar à altura dos desafios para participar da história de nossa classe na construção dos meios de sua emancipação revolucionária. Mais do que desejar ser uma alternativa de organização para os comunistas revolucionários, para os quais as portas do PCB estão abertas, queremos ser merecedores desta possibilidade, por buscarmos traçar estratégias e caminhos que tornem possível a revolução brasileira.

O PCB trabalhará de todas as formas e empregará todos os meios possíveis para contribuir com a derrota da hegemonia burguesa no Brasil, visando socializar os meios de produção capitalistas e transferi-los para o Poder Popular, assim como construir uma nova hegemonia política, social, econômica, cultural e moral da sociedade, de forma a que a população brasileira possa usufruir plenamente de uma nova sociabilidade, baseada na solidariedade, na cooperação entre os trabalhadores livres e emancipados do jugo do capital. Por criarem toda a riqueza os trabalhadores têm o direito de geri-la de acordo com suas necessidades, única forma de construir um novo ser humano e chegar a uma sociedade sem classes e sem Estado: uma sociedade comunista.

Viva o Internacionalismo Proletário!

Viva a Revolução Socialista!

Viva o Partido Comunista Brasileiro!

XIV Congresso Nacional do PCB, Rio de Janeiro, outubro de 2009

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Pela 17ª vez, ONU condena bloqueio dos EUA a Cuba

A Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou, pela 17ª vez consecutiva, uma resolução que condena os Estados Unidos pelo bloqueio imposto contra Cuba há 47 anos. A resolução foi votada por 192 países, com 185 condenando o embargo e pedindo seu fim, três votos a favor (EUA, Israel e Palau) e duas abstenções (Micronésia e Ilhas Marshal). No ano passado, o bloqueio americano foi condenado por 184 votos a quatro, com uma abstenção.

O ministro do exterior de Cuba, Felipe Pérez Roque, afirmou antes da votação que será uma tarefa para o próximo presidente dos Estados Unidos decidir se o bloqueio é uma política fracassada.

O projeto de resolução, intitulado ''Necessidade de pôr fim ao bloqueio econômico, comercial e financeiro imposto pelos Estados Unidos da América contra Cuba'' foi apresentado pelo ministro cubano de Relações Exteriores, Felipe Pérez Roque.

Na introdução desse documento, aparece destacada a preocupação pela promulgação e aplicação por parte dos Estados Unidos de legislações e disposições regulamentares de alcance extraterritorial como a Lei Helms-Burton.

Na 16ª votação deste projeto em 2007, a demanda de extinguir a política coercitiva americana contra Cuba recebeu apoio quase unânime da Assembléia Geral quando 184 de seus 192 membros votaram a favor.

Os Estados Unidos foram acompanhados apenas por Israel, Ilhas Marshall e Palau em sua oposição a esse projeto de resolução, enquanto a Micronésia absteve-se e Albânia, El Salvador e Iraque estiveram ausentes.

Um porta-voz oficial cubano disse que ''pela décima sétima vez, a comunidade internacional terá a oportunidade de expressar novamente sua condenação à política genocida de bloqueio que o governo estadunidense mantém contra nosso país''.

A aplicação dessa política por quase 50 anos contra Cuba ''constitui o principal obstáculo para o desenvolvimento econômico e social do país e uma flagrante violação dos direitos humanos de todo o povo cubano'', observou.

Mas apesar da reiterada rejeição da Assembléia Geral ao bloqueio econômico contra Cuba, Washington continua a aplicação dessa medida coercitiva de maneira impune, porque as decisões deste alto organismo da ONU não são de cumprimento obrigatório.

O projeto de resolução expressa preocupação pelo fato de que após a rejeição ao bloqueio a Cuba durante 16 anos consecutivos, as autoridades americanas continuam promulgando e aplicando novas medidas para reforçá-lo.

Em declarações à Prensa Latina sobre este tema, o presidente da Assembléia Geral, o diplomata nicaragüense Miguel d'Escoto, referiu-se a este fato como um dos casos que explicam a necessidade de reforma requerida pela ONU.

"A idéia de que a clara e inequívoca voz da Assembléia Geral deve ser tomada como uma simples recomendação sem nenhuma obrigatoriedade deve ser enterrada para sempre", expressou d'Escoto.

De todas as formas, os diplomatas cubanos insistem em que seu país ''continuará exigindo o levantamento do bloqueio e não cederá em seu empenho até conseguir sua eliminação''.

Com informações da agência cubana Prensa Latina: http://www.prensa-latina.cu/

O RESULTADO DAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS E A ESQUERDA

(Igor Grabois)
O PCB participou ativamente das eleições municipais em 2008. Lançou 43 candidatos a prefeito
e mais de 700 candidatos a vereador. Elaborou um programa de governo para todo o país, levantando a
questão da participação popular nas prefeituras, a universalização dos serviços públicos e o fim das
privatizações e terceirizações. Politizou o debate, pois não se limitou ao debate local, circunscrito pelo
senso comum e pela mídia. As campanhas comunistas foram campanhas de denúncia política, onde
houve espaço para a solidariedade internacional e latino-americana e para a discussão da organização
dos trabalhadores.
A campanha eleitoral dos comunistas se deu em condições difíceis. O boicote da mídia foi
ostensivo, onde só os candidatos dos grandes partidos tiveram espaço. A lei eleitoral é extremamente
restritiva, onde a desigualdade mais gritante é a distribuição do horário público de rádio e tv. As
máquinas governamentais têm um peso expressivo no resultado eleitoral, com a interferência direta dos
governos estaduais e federal. Certamente, essas eleições de 2008 foram as mais desmobilizadas e
despolitizadas desde a redemocratização.
O caráter das eleições municipais
As eleições no Brasil ocorrem nos anos pares, com eleições municipais e eleições gerais
alternadamente. As eleições municipais assumem um caráter de preparação para as eleições gerais. Ou
seja, a eleição dos prefeitos e vereadores se torna uma prévia da eleição dos governadores e do
presidente da república. Este conteúdo, porém, fica velado pelo localismo das eleições de âmbito
municipal. O clientelismo, a troca de favores, o papel de “lideranças” – que nada mais são do que cabos
eleitorais remunerados – são os elementos determinantes para o sucesso nessas eleições. Haja vista a
composição das câmaras de vereadores nas principais cidades. O voto de opinião, tanto à esquerda
quanto à direita, é suplantado pelo voto mapeado pelas máquinas políticas. As eleições de 2008
confirmam, mais uma vez, este quadro.
Em 2010, será a primeira eleição presidencial sem Lula. Esta eleição ocorrerá após dois
mandatos de um presidente com origem no movimento operário. O ambiente em que se prepara essa
eleição é de crise econômica internacional. Essa crise é um elemento complicador do consenso
burguês, que vem se consolidando desde a reeleição de Lula em 2006.
Este consenso burguês se dá em torno do crescimento econômico e do aumento da presença de
empresas de capital de origem no Brasil no cenário internacional. Todos os setores importantes da
economia brasileira têm se beneficiado do momento atual. Os bancos viram o crédito se expandir,
elevando a sua lucratividade como nunca antes na história do nosso país. O agronegócio,
embalado nos bons preços, até o momento, dos produtos agrícolas, amplia sua influência, ditando
inclusive a política agrária do governo. O setor imobiliário também se beneficiou da expansão do
crédito. A indústria de transformação aumenta as suas vendas e investe na sua capacidade produtiva
com o crédito subsidiado do BNDES. Esse crescimento tem reflexos no emprego e na renda – em um
movimento insuficiente para desconcentrar renda e repor as perdas do passado. Portanto, o capitalismo
no Brasil convive com a “alternância de poder”, entre um partido de origem popular, de corte socialdemocrata,
e partidos abertamente burgueses.
O resultado eleitoral e a sucessão presidencial
O panorama dos eleitos e dos segundos turnos na maioria das cidades importantes aponta uma
vitória da base governista. O PMDB obteve o maior número de prefeituras. O PT viu crescer sua
quantidade de prefeitos eleitos, ampliou sua presença nas regiões metropolitanas de Rio e São Paulo. O
PC do B fez crescer a sua bancada de prefeitos, reflexo dos bons ventos do governo Lula, da diluição
da sua política e do consenso burguês que se constituiu em torno do atual governo. As oligarquias
tradicionais sofreram pesadas derrotas em diversos estados. Os dois candidatos que disputavam a
herança do carlismo em Salvador ficaram de fora do segundo turno. No interior emerge a liderança de
Geddel Vieira Lima e do governador Jacques Wagner, ambos à sombra do governo federal.
No Recife, o candidato do PT, apoiado pelo prefeito, pelo governador e pelo governo federal
impôs uma derrota acachapante ao PMDB oposicionista. Em Fortaleza, o PSDB local, artífice do
arranjo político do tucanato, foi fragorosamente derrotado. Apenas em Natal, o demo Agripino Maia
foi vitorioso. DEM e PSDB se enfraquecem como representação burguesa e alternativa à Lula.
Perderam um número significativo de prefeituras. Uma eventual vitória em São Paulo não contesta essa
análise. O candidato demo foi para o segundo turno dentro do esquema Serra, no qual o DEM é linha
auxiliar. Kassab, inclusive, evitou se apresentar como candidato oposicionista no plano federal. Em
Minas, a unanimidade em trono de Aécio se quebra, em um segundo turno inesperado em Belo
Horizonte. O PMDB, do Ministro Hélio Costa cresceu.
Ou seja, o debate em torno de 2010, até o momento, não se caracteriza por uma oposição a Lula.
O que ocorre no Congresso Nacional, particularmente no Senado, não se reflete na política material,
como demonstra o resultado das eleições. A discussão da sucessão presidencial gira em torno da crise e
da manutenção do crescimento econômico. Em poucos momentos da história nacional houve tanta
unidade nas classes dominantes. O resultado eleitoral reflete o consenso burguês que se consolida.
A concluir pelo resultado eleitoral, o governador Serra se fortalece frente ao grupo de Aécio e
de Tasso Jereissati, este com sua reeleição ao senado em risco. O grupo arrivista-reacionário de
Alckmin parece definitivamente derrotado. O desenho da sucessão parece se definir entre o PSDB de
Serra e um candidato governista, não necessariamente petista. Ambos os grupos reivindicando um
discurso de crescimento econômico, de obras de infra-estrutura, de desenvolvimento econômico. O
discurso abertamente neoliberal da era FHC se torna residual. A crise põe de lado, pelo menos por
enquanto, os ideólogos do estado mínimo. Os projetos pouco se diferenciam. Crescimento, mas
retirando direitos dos trabalhadores e atacando a sua organização. O PT seguindo no trabalho de
cooptação da classe operária e o PSDB conformando uma política para as camadas médias.
O resultado da esquerda
A esquerda, em geral, diminuiu sua representação nas Câmaras e prefeituras. No estado de São
Paulo, o PSOL elegeu apenas quatro vereadores, a maioria em municípios de pouca expressão. Em Rio
e São Paulo, seus candidatos a prefeito tiveram votação abaixo do esperado. Obteve significativas
vitórias em Fortaleza e Maceió, mas com o peso de figuras públicas que transcendam o partido. O
PSTU viu sua votação diminuir nas eleições de vereador em Rio e São Paulo e não logrou eleger um
único vereador. A Frente de Esquerda não conseguiu se materializar nas principais cidades. Onde ela
ocorreu, não conseguiu se firmar como alternativa de esquerda, muitas vezes se enredando nas
discussões locais e abandonando o debate político mais profundo.
A esquerda do PT também diminuiu nessas eleições. Perdeu vereadores e a maioria esmagadora
dos prefeitos eleitos é ligada ao campo majoritário. Figuras tradicionais da esquerda do PT, ligadas ao
movimento operário e popular, perderam mandatos, substituídas por candidatos eleitos por máquinas
políticas. O caso de São Paulo é emblemático.
O PC do B paga caro pelo seu crescimento, em termos de alianças, concessão de legenda e
comprometimento do programa. Muitos dos eleitos não têm a sombra de comunistas, estando no PC do
B por este ser um partido governista. Não conseguiu materializar a sua “tática audaciosa”, de se
descolar do PT e se apresentar como alternativa institucional-eleitoral. Em São Paulo, se contentou com
a vice da candidata petista. Em Belo Horizonte e no Rio, viu seu eleitorado minguar e ficou fora do
segundo turno. O PC do B aparece, na cena política, como coadjuvante do petismo.
Grande parcela da esquerda não está organizada em partidos. Mal participou do processo
eleitoral. O abstencionismo é fruto da consolidação do PT como partido da ordem. Esse campo de
esquerda não vê alternativa partidária no plano político, o que, por decorrência, leva ao abstencionismo.
Superar o abstencionismo vai demandar a construção de uma alternativa política dos trabalhadores que
se manifeste no plano institucional.
O PCB lançou candidatos próprios em diversas cidades importantes do país. Conseguiu
expressivos resultados eleitorais em capitais e cidades médias, como Nova Friburgo, Juiz de Fora,
Macapá, Franca, Teresina, Aracajú, dentre outras. Em São Paulo, Rio, Recife, Fortaleza, Manaus,
apesar de obter menos de 1% dos votos, os comunistas qualificaram o debate, dialogaram com o
movimento operário e popular e obtiveram importante saldo político e organizativo. Desde a sua
reconstrução, o PCB não participava das eleições de maneira tão ampla, apresentando centenas de
candidatos, ocupando espaços na mídia, realizando a interlocução política. Logrou eleger, ainda, 13
vereadores, em 9 Estados. No plano eleitoral, o Partido, em geral, manteve ou ampliou a votação em
relação a 2004.
O PCB está correto na sua política de combinar o trabalho não-institucional com o institucional.
As eleições terminaram e a responsabilidade dos comunistas aumentou. A tarefa dos comunistas é
seguir firme na reorganização do movimento operário e na reconstrução do protagonismo da classe
trabalhadora.
Igor Grabois, economista, é membro da Comissão Política Nacional do PCB.

Karl Marx - Biografia

Karl Heinrich Marx (1818-1883), filósofo, economista e militante revolucionário alemão. Fundador do comunismo científico, grande educador e guia do proletariado mundial, inspirador e organizador da I Internacional ("Associação Internacional dos Trabalhadores"). Marx nasceu a 5 de maio de 1818 em Trévers, Alemanha. Seu pai era advogado. Depois do liceu cursado na cidade natal, Marx prosseguiu os estudos na Universidade de Bonn, e mais tarde, na de Berlim, onde ingressou no grupo 'hegelianos de esquerda" de tendência revolucionária. Dedicou sua tese de doutoramento à filosofia de Epícuro e de Demócrito, defendendo aí concepções idealistas. Após ter brilhantemente a tese na Faculdade de Filosofia de Hiena, Marx voltou a Bonn; mas abandonou-a em 1842 para dirigir-se a Colônia, onde exerceu a função de chefe de redação da "Gazeta do Reno, órgão da burguesia radical" da Renânia. Lênin refere-se ao período de trabalho de Marx na "Gazeta do Reno" como de um período de transição do idealismo para o materialismo, do democraticismo revolucionário para o comunismo. Em princípios de 1843, a "Gazeta do Reno", que sob a direção de Marx era um órgão democrático-revolucionário e achava-se submetida a rigorosa censura foi proibida de circular. Em junho de 1843, Marx casou-se com Jenny de Wastfália, sua amiga de infância. Em fins de outubro de 1843 fixou residência em Paris, onde fundou, com Arnold Ruge, os "Anais franco-alemães". Aí foram publicados seus notáveis artigos "Contribuição à crítica da filosofia do direito de Hegel" e "A questão judaica". "Nos artigos publicados nessa revista, Marx aparece-nos já como revolucionário que proclama "a crítica implacável de tudo o que existe" e, particularmente "a crítica das armas", apelando para as massas e o proletariado" (Lênin, Marx e Engels). Em setembro de 1844, deu-se o encontro de Marx e Engels em Paris, encontro que foi o início de sua luta comum pela causa operária. Foram eles os primeiros a revelar o papel histórico do proletariado como coveiro do capitalismo e construtor do comunismo, e converteram-se em educadores e dirigentes do proletariado, em campeões da luta pela emancipação dos trabalhadores da escravidão capitalista. "As lendas antigas", escreve Lênin "oferecem exemplos comovedores de amizade. O proletariado europeu pode dizer que sua ciência foi criada por dois sábios e militantes cujas relações pessoais empalidecem as mais comovedoras lendas antigas sobre a amizade entre homens" . Em 1845. Marx e Engels escreveram "A .Sagrada Família" , contra as chefes dos "Jovens hegelianos" , Bruno Bauer, e companhia, livro que desempenhou importante papel na elaboração do marxismo. Marx e Engels expuseram sua teoria do comunismo científico na obra "A ideologia alemã" . Em Paris, Marx consagrou-se ao estudo da economia política e da história da Revolução Francesa, sem deixar por isso de prosseguir na atividade revolucionária. Em 1845, ante a insistência do governo prussiano, Marx foi expulso de Paris como perigoso revolucionário. Tendo fixado residência em Bruxelas, Marx, em 1847, publicou sua obra "Miséria da. Filosofia" , resposta à "Filosofia da Miséria", do anarquista e socialista pequeno-burguês Proudhon. Em Bruxelas. Marx aderiu a uma sociedade secreta de propaganda, a "Liga dos Comunistas", e tomou parte dirigente no II Congresso da Liga, que encomendou a Marx e Engels a redação do programa dessa associação. Dessa forma foi como em fevereiro de 1848 apareceu o célebre "Manifesto do Partido Comunista" , com sua grande palavra de ordem internacional: "Proletários de todos os países, uni-vos!" "Esse pequeno livro vale tomos inteiros, escreveu Lênin, e seu espírito faz viver e marchar, até nossos dias, todo o proletariado organizado e combatente do mundo civilizado" . Em Bruxelas, Marx continuou sua luta contra o governo prussiano. Quando estourou a revolução de fevereiro de 1848 na F rança, o governo belga, à vista do movimento popular que se iniciava em Bruxelas. Expulsou Marx, que foi levado, sob escolta policial, à fronteira francesa. Marx voltou a Paris. Mas depois da revolução de março de 1848 na Alemanha, rumou para Colônia, para ali fundar a "Nova Gazeta do Reno". Depois da vitória da contra-revolução na Alemanha, Marx foi processado e em seguida expulso também de Paris, após as manifestações de junho de 1849, a: do que refugiar-se em Londres, onde viveu até o fim de seus dias. Depois do golpe de Estado na França, Marx publicou a "Luta de classes na França" e "O 18 Brumário de Luís Bonaparte", obras nas quais faz o balanço da revolução de 1848-1851. Os anos seguintes foram consagrados à sua principal obra científica, "O capital" . Após prolongadas pesquisas econômicas, Marx publicou em 1859 a "Contribuição à crítica da Economia Política", primeira exposição de sua teoria do valor e do dinheiro. Oito anos mais tarde, em 1867, apareceu em Hamburgo o livro primeiro de "O Capital", contendo os princípios essenciais das concepções econômicas e socialistas de Marx, assim como as bases de sua crítica da sociedade contemporânea, do modo de produção capitalista e de suas conseqüências. Durante os anos que Marx dedicou a "O Capital", desempenhou, concomitantemente, desbordante atividade. Perante a ascensão do movimento operário, no começo da década de 60, Marx dedicou-se à realização de sua idéia: criar uma associação de trabalhadores para elaborar uma tática única para a luta proletária. Em 1864, foi fundada em Londres a ,"Associação Internacional dos Trabalhadores", e I Internacional, da qual foi Marx o animador e chefe ideológico. Redigiu o Manifesto inaugural da Internacional e quase todos seus principais documentos. Ao criar a I Internacional, Marx lançara os alicerces da organização proletária internacional para a luta revolucionária pelo socialismo. A testa da Internacional, Marx empreendeu a luta para dar fim à dispersão do movimento operário. "A Internacional havia sido fundada para substituir as seitas socialistas e semi-socialistas por uma efetiva organização da classe operária" (Marx-Engels, Obras). Numa luta implacável contra o oportunismo dentro do movimento operário, contra os anarquistas (proudhonianos, bakuninistas, etc.), Marx elaborou a tática revolucionária para a luta da classe operária. Em 1871 escreveu sua célebre obra " A guerra civil na França", na qual analisa a experiência da Comuna de Paris, dando dela uma apreciação "profunda, exata, brilhante, eficaz, revolucionária" (Lênin). Em virtude da reação que se seguiu à queda da Comuna de Paris, o Conselho Geral da Internacional, por uma decisão do Congresso de Haia (1872), foi transferido para os Estados Unidos, onde, posteriormente, declarou-se dissolvido. Marx consagrou-se novamente a "O Capital", plenamente consciente do alcance dessa obra para a revolução proletária, para a classe operária internacional. Em 1875, escreveu sua célebre "Crítica do Programa de Gotha" . A partir do começo da década de 60, Marx foi seguindo com a maior atenção o movimento de libertação social na Rússia. Estudou a língua russa para poder ler no original as obras de literatura que espelhavam as relações sociais na Rússia. Inteirou-se com alegria de que seu livro "O Capital" havia sido já traduzido em russo... "na Rússia, onde se le e aprecia "O Capital" mais do que em qualquer outro pais, nosso êxito é ainda mais considerável" . Tinha alta estima pelos grandes revolucionários democráticos russos Chernishevsky , Dobroliubov. O profundo exame das mudanças econômicas e políticas ocorridas na Rússia permitiu a Marx e Engels prever logo no fim de Comuna de Paris de 1871 a iminência da primeira grande revolução russa. "Quando a Comuna de Paris foi esmagada pelos massacres organizados pelos defensores da ordem", escreveram Marx e Engels em 21 de março de 1881, "os vencedores não podiam nem sequer supor que apenas dez anos mais tarde, lá longe, em Petroburgo. produzir-se-ia um acontecimento que deverá levar inevitavelmente, mesmo que a luta tenha que ser longa e cruel, à Comuna Russa.... Dessa forma, a Comuna que as potências do velho mundo julgavam ter varrido da face da terra, vive ainda!". Lênin frisou que Marx e Engels haviam tido fé na revolução russa, que estavam convencidos de seu imenso alcance mundial. As Medidas de expulsão de que foi objeto Marx em numerosas ocasiões por parte de governos reacionários, a miséria de que padeceu toda a sua. vida, e que o apoio financeiro de Engels apenas atenuou parcialmente, a luta implacável que manteve contra as correntes não-proletárias e anti-proletárias de toda espécie, o trabalho intensivo que exigiam suas obras teóricas, tudo isso aniquilou a saúde de Marx e no dia 14 de março de 1883, este homem genial faleceu. Foi o cérebro e o coração do proletariado, da classe mais progressista, chamada a realizar uma reviravolta na história da humanidade. "E morreu, diz Engels, venerado, querido, chorado por milhões de operários da causa revolucionária, como ele, disseminados por toda Europa e América, desde as minas da Sibéria até a Califórnia". ("Discurso diante da tumba de Marx", em Marx-Engels, Obras Escolhidas).